Mineradora quer ouro, mas não quer compromissos com a região
Nesta
terça-feira, em Montes Claros, a mineradora canadense Carpathian Gold tentará
se livrar de alguns investimentos compensatórios nos municípios de Porteirinha
e Riacho dos Machados, conforme estabelecido na concessão da Licença Prévia
(LP) de seu empreendimento – Mineração Riacho dos Machados Ltda – de exploração
de ouro na região.
É o que mostra o ponto 5 da pauta da 92ª Reunião Ordinária da Unidade Regional Colegiada do Conselho Estadual de Política Ambiental no Norte de Minas (URC-Copam-NM), que acontecerá na tarde deste 05/02/2013, no auditório do Centro de Ciências Humanas da Unimontes, em Montes Claros.
É o que mostra o ponto 5 da pauta da 92ª Reunião Ordinária da Unidade Regional Colegiada do Conselho Estadual de Política Ambiental no Norte de Minas (URC-Copam-NM), que acontecerá na tarde deste 05/02/2013, no auditório do Centro de Ciências Humanas da Unimontes, em Montes Claros.
No final de 2012, quando muitos órgãos e representantes do Copam já estavam entrando em recesso, a Carpathian Gold, sem qualquer comunicação pública, solicitou à URC-Copam-Norte de Minas que desincumba a empresa de várias condicionantes e flexibize outras tantas que o próprio Copam definiu para assegurar a “viabilidade ambiental” do empreendimento proposto pela empresa. Como o Ministério Público, como um dos conselheiros pediu vistas ao processo, coube o julgamento para hoje, terça-feira (05).
As condicionantes são procedimentos que o empreendedor deverá assumir para diminuir (mitigar) ou compensar os impactos causados pela atividade submetida à licença ambiental. No caso da Mineração Riacho dos Machados, o empreendimento é classificado como de classe 6, nível máximo de potencial poluidor. Os impactos sociais serão também muito altos, pela interferência em cidades pequenas que receberão grande número de trabalhadores vindos dos mais diversos lugares, e pelos riscos que a mineração de ouro implicará para outras atividades típicas da região, como a agricultura familiar, a fruticultura e o turismo praticado na represa Bico da Pedra.
Carpathian – nenhuma responsabilidade com proteção de
plantas raras, e compromissos sociais na região
Entre
outras intenções, a Carpathian Gold quer se livrar da obrigação de fazer
barraginhas para compensar os danos hídricos que acarretará à região, como
também propõe eliminar sua obrigação quanto à identificação de espécies
vegetais raras que devem ser protegidas nesta região do Norte de Minas.
Aproveitando a troca de prefeitos nos municípios da região, a Carpathian quer
desobrigar-se, não somente quanto de compromissos ambientais, como também com
os sociais, a exemplo de investimentos em construção de quadras esportivas para
atividades sociais com os jovens e em equipamentos e serviços de saúde, cujo
aumento da demanda já é significativo com a chegada do novo empreendimento.
Segundo informações locais, depois da implantação da mineradora o fluxo de
atendimento no hospital de Porteirinha aumentou significativamente.
Grande parte das
condicionantes já estão com grandes atrasos no cumprimento dos prazos. Apesar
de nunca ter visitado criteriosamente o local, para vistoriar ou avaliar a
situação, a Superintendência Regional de Meio Ambiente do Norte de Minas
(Supram-NM) tem sempre concedido pareceres favoráveis às pretensões da
mineradora, utilizando com parcialidade as normas jurídicas e tentando
desqualificar a razão de ser e as prerrogativas dos colegiados ambientais.
Pior do que isso, em setembro
de 2011 (conferir nota em anexo), o secretário de Meio Ambiente do Estado,
Adriano Magalhães, deu uma outorga ad-referendum, isto é, sem consultar
a URC-COPAM, aprovando a instalação da barragem de rejeitos da Carpathian Gold,
poucos quilômetros a montante da represa Bico da Pedra, que além de abastecer a
cidade de Janaúba e comunidades locais, é responsável pela irrigação do projeto
Gorutuba e uma referência turística regional.
Processamento de Cianeto, Arsênio e outros venenos
A
barragem de rejeitos da Carpathian está projetada sobre a bacia do ribeirão
Curral Novo, afluente do rio Gorutuba, um dos principais patrimônios naturais
desta área. Além do acúmulo de metais pesados, altamente tóxicos (como o
arsênio), as barragens de mineração de ouro recebem enorme volume de cianeto
utilizado para a separação de ouro do solo removido.
Para se ter uma ideia, a
Mineração Riacho dos Machados Ltda estima uma extração de 2,55 milhões de
toneladas de rocha por ano, ou seja, 6.900 toneladas/dia de rocha. Este volume
é normalmente processado com cianeto de sódio. Para cada tonelada de rocha
processada são empregados cerca de 150 gramas de cianeto, misturados em 700 litros de água. Essa
é a quantidade necessária para a obtenção de um grama de ouro. Ou seja, em
Riacho dos Machados seriam pouco mais do que uma tonelada/dia de cianeto. Entre
0,2 e 0,3 gramas
de cianeto de sódio (o equivalente a 5 a 10 grãos de arroz) são suficientes para
matar uma pessoa. Portanto, entre três a cinco pessoas podem ser letalmente
envenenadas por um grama de cianeto; um quilo de cianeto pode matar de três a
cinco mil pessoas, e uma tonelada, três a cinco milhões. Como já dito, esse
veneno é diluído em grande quantidade de água, e portanto não tem o mesmo
efeito de seu consumo em estado sólido. Mas imagine tal barragem recebendo
estes e outros rejeitos também altamente tóxicos, poucos quilômetros acima de
um manancial de abastecimento e recreação pública, e de um grande projeto de
produção de frutas para o Brasil e o mundo.
Parte significativa da
sociedade da região não sabe o que está de fato acontecendo e muitos dos que se
informam, manifestam-se indignados. Afinal, o contraponto do ouro a ser
produzido é uma usina altamente tóxica instalada acima da principal fonte de
água da região. Acidentes com rompimento e extravasão de
barragens de rejeitos têm ocorrido com certa frequência em Minas Gerais, e não
podem ser subestimados pelas autoridades que são habitualmente negligentes e
tendenciosas no licenciamento e incompetentes e omissas na fiscalização
ambiental.
Na década de 1970, a então Companhia
Vale do Rio Doce explorou a mina, mas, passados os anos, ficaram os buracos. Riacho
dos Machados, sede do empreendimento, depois de tanto tempo de mineração, não
tem nenhum hospital e pouca infraestrutura. A expectativa de muitos era de que
esse empreendimento viesse contribuir com o município para o tão sonhado
“desenvolvimento”, mas as tentativas da empresa de ver-se livre de
responsabilidades e os riscos implicados em tal projeto começam a despertar o
povo do lugar. Ninguém quer ser premiado com um pesadelo.
Governo de Minas facilita licença para
mineradora canadense
O Secretário de Estadual de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, Adriano Magalhães Chaves, concedeu
ad referendum, noticiada no dia 21 de setembro, Licença de Instalação à empresa
Canadense Carpathian Gold, para exploração de ouro, no município de Riacho dos
Machados, na Bacia do Rio Gorutuba, Norte de Minas Gerais. Ao mesmo
empreendimento, no mês de agosto, o secretário concedeu outorga, também ad
referendum, para a construção de uma barragem de rejeito da mineradora próxima
à barragem do Bico da Pedra, que abastece a cidade de Janaúba e toda a região,
inclusive o Perímetro Irrigado do Gorutuba.
No dia 13 de setembro, a reunião da Unidade Regional
Colegiada Norte de Minas -RCNM, para análise do pedido de licença de
instalação, foi cancelada em função da greve dos técnicos do Sistema Estadual
de Meio Ambiente – SISEMA, que assessoram tecnicamente os conselheiros. O
conselheiro Ézio Darioli, representante da Federação das Indústrias do Estado
de Minas Gerais -FIEMG, foi o primeiro a solicitar a retirada da pauta o
licenciamento da mineradora, argumentando que a empresa não se sentia confortável
em ter seu licenciamento avaliado com essa deficiência. Na semana seguinte o
secretário assinou a licença via ad referendum.
Existem vários questionamentos sobre o
empreendimento, que pode colocar em risco a saúde e a vida das pessoas e causar
graves danos ao meio ambiente. Das 26 condicionantes apenas 12 foram integralmente
cumpridas e outras quatro são convênios com outros órgãos.
A opção do governo por licenciamento ad referendum é
uma opção autoritária, que viola o princípio da precaução, da democracia, do
direito à informação e participação das comunidade locais, movimentos sociais e
ambientalistas. E ainda, retira o poder de decisão dos conselheiros e
enfraquece a estrutura estadual de licenciamento ambiental.
Maior precaução ainda devia ter o governo diante do
recente e amplamente divulgado esquema de grilagem de terras públicas no Norte
de Minas, investigado pela Polícia Federal e o Ministério Público, que envolve
o diretor geral do Instituto de Terras – ITER MG e outros funcionários, como
também prefeitos, laranjas e a empresa mineradora Vale.
O que o governo quer com essa pressa para aprovação
de licenças? Por que aprovar sem mesmo ter claro os problemas que o projeto
pode gerar? O secretário vai responsabilizar-se pelos danos ambientais e
sociais, se a barragem de rejeitos contaminar o reservatório do Bico da Pedra?
É assim que doravante vão proceder as autoridades em Minas e no Brasil, a
facilitar tudo para os grandes empreendimentos de exploração e exportação de
nossas riquezas, sem as necessárias salvaguardas?
Ao trocar a presidência do Instituto de
Desenvolvimento Integrado/MG (INDI) pela Secretaria de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) o senhor Chaves quer advogar pelos
compromissos que o INDI ajudou a firmar com a mineradora Carpathian, a despeito
das implicações ambientais que, no novo cargo, deveria defender.
Denunciamos a forma como o Governo de Minas libera
licenças ambientais e outorgas e assina protocolos de intenções com as
mineradoras que atuam na região. Exigimos que os órgãos responsáveis
investiguem as denúncias. Já em 23 de setembro de 2011 várias entidades sociais
mineiras haviam encaminhado junto ao Ministério Público Estadual uma
representação contra a Mineração Riacho dos Machados Ltda – Carpathiam Gold.
Além dos interesses econômicos, deve ser observado
rigorosamente o direito constitucional ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado. Cabe a todos nós o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações. A licença concedida sem observar o cumprimento de
condicionantes estabelecidas impõe riscos de dano ambiental e social e são
nulas por violação ao art. 225 da Constituição e leis infra-constitucionais.
Por isso exigimos a anulação da licença de instalação concedida ao
empreendimento.
Montes Claros, 05 de outubro 2011.
Movimentos
dos Atingidos por Barragens - MAB
Movimento
pelas Serras e Águas de Minas - MovSAM
Centro
de Agricultura Alternativa do Norte de Minas – CAA NM
Movimentos
dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Comissão
Pastoral da Terra - CPT
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